quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Eu queria ser uma palhaça


Imagine como seria ser um palhaço. Todos, em algum momento da vida, já se colocaram um nariz daqueles redondos e vermelhos. Imagine... a sensação de ouvir o riso das crianças e seu rostinho de satisfação.

Eu queria ser uma palhaça.

Quando criança, ia tanto a um circo - o único que havia em Borborema - que sabia de cabeça todos os diálogos. E ainda assim, ria e ria.

E por quê? Porque sou um pouco tonta? Também pode ser. Mas também porque literalmente "entrava no clima". Somos assim, não? Eu sim, pelo menos. Me deixo levar pela alegria reinante. É isso. Como quando vemos os trapezistas, que com seus rodeios e quedas nos fazem também flutuar e sonhar com essa leveza inalcançada. E nos fazem temer a queda, única preocupação de quem está acima, muito acima.

A arte tem essa capacidade de nos transportar para longe da realidade, de gerar calafrio com um mero movimento de pernas mais brusco. Ou mais delicado. De causar uma lágrima ou trazer uma lembrança com uma nota musical mais grave. E funda.

Não são os palhaços que nos fazem rir. Somos nós que nos permitimos. Que nos deixamos alegrar.

Como num espetáculo do Cirque du Soleil, na vida é preciso ter muita disciplina para alcançar a leveza necessária e se deixar flutuar, rodopiar. Para sentir a liberdade dos movimentos e a sensação de superação.

Eu vi Saltimbancos há mais de um mês e fiquei boquiaberta. Recomendo para quem gosta de circo. E para quem não gosta. É "increíble". Ensaiei muito para escrever sobre isso, porque realmente mexeu muito comigo. Hoje decidi. Depois que o professor contou que foi palhaço por muito tempo. Foi surpreendente. Mas ao fim e ao cabo, todos temos um palhaço dentro de nós.

Eu pelo menos tenho, seguro!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O que eu quero


Quatro meses de Barcelona... já virou lugar comum dizer que é sonho realizado, alegria constante, satisfação maior ainda. Nessa semana, comemoro ainda mais que meu "aniversário" de catalã temporária. Comemoro que meu irmão entrou na faculdade - o segundo da linha dos nerds vai fazer Ciência Política na UNB. Me superou de longe. Comemoro que hoje é meu último dia sem trabalhar. Segunda-feira começo um estágio. E não é qualquer. É continuando o que eu amava fazer no Brasil, e que deixei pra trás pra vir pra cá. Não é ótimo unir o útil ao agradável?

Desse jeito, minha mente, que não pára de funcionar, já começa as fazer mais planos. Quem sabe eu não consigo economizar aqui, apertar ali e estender essa estadia ou incluir mais uma viagem no roteiro? Tenho apuntes diários para escrever no blog. Minha lista inclui textos sobre uma viagem incrível à cidade mais bonita do mundo - Paris -, um espetáculo do Cirque du Soleil, minha vontade ainda maior de morar na Itália depois de assistir a Nine, a indescritível sensação de poder comer no restaurante frequentado por Picasso, de assistir a Vicky Cristina Barcelona e sentir-se em casa ou de receber o convite de um amigo pra ir a um bar que ele descreve como "aquele, em frente à Sagrada Família".

Mas como estou na fase de que só faço aquilo que tenho vontade e quando tenho vontade, quis escrever esse texto assim, pra falar do meu irmão - meu orgulho - e de mim mesma, e explicar quanta coisa acontece quando a gente se abre para a vida e para as pessoas.

Mas eu me obrigo a escrever sobre o Carnaval de Sitges, isso sim. Mas só porque eu quero. logo mais.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ser feliz e mais nada...

Uma das minhas paisagens preferidas de Barcelona
Casa Bartlló

Sabe quando eu percebo que estou feliz? Quando meu nível de distração atinge níveis insuperáveis e eu nem consigo me irritar comigo mesma. E olha que poderia. Frequentemente passo da estação de metrô onde tenho que baixar, pensando na vida; isso quando não pego o trem para o lado errado - também acontece; ou quando saio de casa e esqueço a chave dentro e fico torcendo pra alguém abrir a porta quando eu voltar.

Também notei isso hoje quando abri a janela de manhã e vi o sol dando bom dia. Sorriso indomável. Na bicicleta, rosto gelado, duro de frio, mas não inexpressivo. Minha realização era visível em cima daquela magrela, mochila nas costas. Achei que alguém mais tinha percebido, porque um homem, na rua, falou "bon día" (assim, em catalão) e eu respondi, achando o máximo da simpatia - quase impossível para os padrões locais, ainda mais àquelas horas da manhã - e só depois reparei que não era comigo, óbvio. Tentei engolir o sorriso, mas não conseguia.

Minha vida basicamente deu um giro ao contrário. Enquanto ouço minhas amigas dizendo que estão comprando apartamento (em uma semana foram quatro), eu voltei a ser apenas uma estudante, que faz trabalhos em grupo, cozinha para si mesma, acorda cedo pra estudar outro idioma e torce pra conseguir um estágio suficiente para pagar apenas o aluguel. E essa é na verdade o que há de mais rico no meu dia a dia, simplesmente pelo fato de que isso foi tudo que eu desejei nos últimos anos. Não o salário baixo, o adeus à poupança ou o medo de minha grana acabar antes do verão, mas o contexto da situação.

Viver em uma das cidades mais bonitas do mundo - onde não chove por mais de dois dias seguidos -, estudar só aquilo que "me gusta", começar a vida do zero, conhecer pessoas incríveis dia após dia, ter amizades adolescentes. Ser uma pessoa leve. Não há nada na vida como a realização de um sonho. Quando as pessoas me perguntam se estou feliz, não digo a elas que façam o que eu fiz. Digo que façam o que lhes faz acordar de manhã, aquilo que esperam há muito realizar e principalmente aquilo que dá um medinho, uma coceira. Porque esses são os melhores sonhos, que nos tiram da bobeira da rotina e nos fazem enxergar a vida com outros olhos, sentir cheiros antes imperceptíveis, saborear cada pedaço do dia, sem pensar em deixar o melhor para o final. Aproveitando o agora!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Minha primeira vez na neve


A previsão de tempo não era das mais amigáveis. Abaixo de zero, chuvoso, nevando. Se o normal seria ficar triste com essas possibilidades, para mim foi mais que excitante! Afinal de contas, eu nunca havia visto neve na vida e seria uma excelente oportunidade, apesar do medo que eu estava de congelar na rua. Preparada para isso, vesti as minhas 4 camadas de meias além da calça mais larga que tinha - a única que servia em cima de tanta roupa - e coloquei meu super casaco rosa bebê - gentilmente emprestado por minha amiga Ana Luíza prevendo meu sofrimento mediante as baixas temperaturas do inverno europeu e meu guarda-roupa desfalcado. Como complemento, luvas, assim mesmo, no plural; gorro; óculos, de grau mesmo - para proteger os olhos dos floquinhos mais agressivos - e meu incansável "paráguas rojo".


E a neve nem se fez de difícil. Já no caminho, de dentro do trem, pude vê-la. E ela vinha ao meu encontro, chocando-se na janela do vagão e deixando um borrão como lembrança. Meus dedos frenéticos começaram aí mesmo a seção de fotos e descobri, nesse dia, o efeito "preto e branco" causado pela neve. Demais!

Chegando ali, descobrimos uma cidade pequenina todinha murada. Caminhamos por fora, fomos a um ponto bem mais alto, nos arredores, de onde podíamos ver a muralha por dentro, voltamos e percorremos seu interior. Por mais linda que fosse a paisagem, em alguns momentos tivemos que nos recolher em "sítios más calientitos" para aquecer um pouco as mãos, os pés, a cabeça e o que mais estivesse pedindo socorro.

Lá fora, a temperatura era de -2. Nevava e ventava. Um tanto quanto inóspito para turistas querendo guardar dezenas de fotos de "recuerdo".

Fomos bem acolhidas pelo dono de um restaurante que nos fez uma proposta tentadora. Mais que a comida, bem boa por sinal, nos oferecia um ambiente aquecido. Sentada à mesa ainda podia observar, pela janela, os pequenos flocos brancos que caíam na rua, já completamente forrada de gelo.

No caminho para a estação de trem sentia um certo alívio, pelo calor que sentiria nas próximas horas de viagem, mas uma tristeza por deixar para trás tão belo cenário.... Foi minha primeira vez na neve. Não esquecerei a experiência e vou querer repeti-la, sem dúvida. Mas confesso que às vezes não podia controlar um sorriso discreto no canto da boca ao pensar que moro, de verdade, em um país tropical!


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mais que conhecer, viajar é viver


Eu nunca havia estado em Toledo, mas também nunca tinha visto uma "Cavalgada de los Reyes". Não tinha noção de quanto esse momento é especial na celebração das festas de fim e começo de ano aqui na Espanha. Nós também conhecemos essa data no Brasil, mas não a celebramos assim. No máximo, quando criança, eu tinha visto uns homens fantasiados com roupas e máscaras um tanto quanto assustadoras, cantando músicas estranhas e caminhando pelas ruas. É o que chamamos de Folia de Reis. Em Borborema me lembro de ter recebido esses "foliões" em casa uma vez, quando meus pais foram pegos de surpresa, porque em geral eles fechavam a porta e fingiam que não estavam.

Pois aqui é diferente. Eles comemoram o dia 06 de janeiro até mais que o Natal - é só nesse dia que as crianças recebem os "regalos", por exemplo. É quando se come o "roscón" de Reyes, que, traz sorte, dizem. Na véspera, à noite, acontece a tal da cavalgada e eu a presenciei em Toledo, nas cercanías de Madri, onde estava passando o dia.



É um desfile dos Reis magos, precedido de uma banda, música, carros enfeitados e cheios de crianças que distribuem "caramelos" (balas, marshmallows, chupa chups) ao público que assiste, com sua sacolas na mão, prontas para serem "rellenadas" com as guloseimas. Eu mesma saí de lá com o saco cheio!! E muito feliz, me sentindo uma "niña" também!

Claro que a Cavalgada de Toledo é pequena se comparada a das cidades maiores - em Madri é um evento que fecha várias ruas - mas o sentido e a emoção são os mesmos. Crianças esperançosas aguardam a chegada dos resis, que vem acompanhados dos presentes e dos bons votos pra o ano que se inicia.


Dali, fui direto para a estação de trem de volta à capital. De Toledo, além da cavalgada, tenho bonitas imagens de recordação: um rio logo que se chega à cidade, com pontes que levam até o centro histórico, a catedral - das maiores da Espanha, as portas que dão entrada pela muralha, a casa de El Greco, o famoso pintor, e a visão de uma de suas obras, dentro de uma igreja muito simplezinha.

Meus olhos viram uma cidade marrom, cheia de subidas e descidas, de pedras e de torres de igrejas; meus ouvidos se lembram da música que entoavam as crianças esperando pela passagem dos reis e meu paladar não se esquece do sabor dos "mazapanes", expostos em quase todas as vitrines da cidade. Experimentei um de cada, pra poder eleger o melhor. Não consegui, então recomendo que se provem todos, enquanto subir e descer aquelas ruas tão cheias de charme e história.