domingo, 31 de janeiro de 2010

De Madri a Segóvia




8 graus lá fora, nuvens cobrindo o céu de Barcelona (sempre tão limpo e convidativo), preguiça aguda, gula incessante. Horas de conversa com amigas pelo skype, me sinto adolescente. Queremos estar juntas, mas não queremos sair do nosso cafofo. Baixamos filmes em conjunto, procuramos uma viagem para a Páscoa, compartilhamos a tarde assim, à distância. Resolvo ver uma "película", mas antes atualizar o blog, que afinal de contas anda meio atrasado no calendário.

Ainda estou saindo de Sevilha, no primeiro dia do ano, rumo a Madri, onde estabeleço base na casa da minha amiga Ana Lúcia e de onde viajo para algumas cidades próximas (ou nem tanto).


Passamos o fim de semana em Segóvia - Ana e seu namorado, Pablo, madrileño mais que ferrenho e um fofo, eu e Camila. A cidadezinha é encantadora - foi a Top 3 da minha lista, depois de Sevilha e Granada. Mas não sei bem por que - foi algo especial no ar que me atraiu. Sei que é linda - tem um aqueduto romano do século 1, uma catedral enorme e um castelo que inspirou Walt Disney, dizem. Entrei no castelo, circulei pra ver por fora, tirei dezenas de fotos do aqueduto, não comi a carne tradicional dali - o cochinillo assado -, nem o doce típico, que não me lembro o nome, mas caminhamos tranquilamente pelas calles que circundam o centrinho histórico, comemos tapas e bebemos, bailamos ao som de músicas espanholas.

É basicamente um destino de fim de semana para os madrileños e talvez por isso eu tenha gostado. Em segóvia, me senti um pouquinho mais espanhola, fazendo o que fazem os que são mesmo daqui. E é muito bom se sentir em casa!




























sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Ano Novo, todo atrapalhado, como eu


No momento em que escrevo esse post estou com os pés de molho na bacia de água quente pra fazer meu pedicure, eu mesma. A vida aqui não é nada glamourosa... mas tá bem gostoso, coloquei um óleo cheiroso e massageio os dedos pra relaxar, sinto o cheirinho do óleo subindo, mexo os dedos devagar, estão macios... É com coisas simples como essa que continuamente concluo como a vida é incrível e nos deixamos levar muitas vezes sem prestar atenção...

Meu Ano Novo começou assim também, de forma simples, porém encantadoramente inédita. Como não podia ser diferente, foi atrapalhado. O combinado era uma ceia no hostel ontem estávamos hospedadas, em Sevilha. Horário mental programado: 22h30. Tomamos banho calmamente, Cami fazia as unhas na cama de cima do beliche, eu me maquiava, trocava de brinco, improvisava um cinto com uma meia-calça (ficou bom no final, ninguém notou), quando chegam as americanas do nosso quarto já saindo pra rua e eu pergunto se elas não iriam "cenar con nosotros". Elas respondem que sim, mas que a cena já estava acabando. Fudeu.

Cami sai do telefone correndo, baixamos do jeito que estamos prontas e tudo está lá, tão bonitinho, decorado com velas, as pessoas sentadas, já "comidas" e nós, as loucas, enrolando pro jantar...Estava tudo programado para 20h30 e não 22h30. Peço nossas quentinhas, que estavam guardadas junto com a de dois outros desavisados, que também ainda não tinham aparecido. Nos acomodamos na mesa junto com nossos novos amigos e ali comemos a lasanha preparada pelo chef do hostel. Bem boa, por sinal. De sobremesa, tiramissú. Bebida à vontade. Vou comemorar o Ano Novo à base de sangria.

Pouco, mas bem pouco antes da meia noite, subo pra pegar as uvas da sorte. Quando chego de volta, todos já se abraçam. Ops, acho que me atrasei na contagem regressiva. Ai, meu Deus, começo a comer correndo, e tem que ser 12, sem saber em que pensar pro ano. Não me planejei antes! Atrapalhada, lógico, derrubo umas uvas, mas não sei quantas. Perco as contas. Reponho as perdas. Continuo tentando comer depressa e fazer os pedidos. Não sei quantas comi, nem lembro o que pedi. Brindamos com cava. Mais cava. Não consigo falar com minha família, pra variar. Do Brasil, pouquíssimas mensagens - ninguém tem meu celular - mas muito especiais. Amigos daqui me ligam. Fico feliz!

Saímos por Sevilha. Entramos numa discoteca. Dançamos automaticamente. Meus amigos se sentem ameaçados: ambiente gay. Estou caindo de sono. Na esquina do hostel, o americano do meu quarto, só de cueca e meia, consola sua amiga que chora, de bebedeira, provavelmente. Ajudamos a levá-la de volta pro quarto. Não lembro o que pedi nas 12 uvas, mas com certeza não foi sossego. Lembro, isso sim, de dar uma volta no quarteirão com uma mochila nas costas. Dizem que é pra dar sorte e muitas viagens no currículo. Nisso estou me empenhando firmemente. E Feliz Año. Afinal, 2010 já tem quase um mês!


















segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Entre García Marquez e Almodóvar

A Plaza de Toros mais popular da Espanha


Eu tinha um sonho, que já contei. Era morar na Espanha.

Eu escolhi Barcelona mesmo sem conhecer, por ser a mais cultural, pela arquitetura, pela mistura de gente, por ser jovem e, claro, pela praia. E fiz com certeza a escolha certa. Mas eu descobri que Barcelona quase nem é Espanha e que a Espanha está em Sevilha. Pelo menos a do meu imaginário. Em cores de vermelho e negro, refletindo força e paixão, a brutalidade dos espanhóis, a personalidade forte, a tradição das touradas.

Talvez eu não morasse ali. É uma cidade bem menor, faz muito calor no verão e não tem a mescla de gente que "me gusta" en Barcelona, mas foi ali que eu me encantei, onde me senti pela primeira vez na Espanha de verdade, depois de quase 2 meses aqui.

Sevilha "é a Bahia da Espanha". A definição, que ouvi mais de uma vez, não poderia ser melhor. O clima ajuda - fazia 17 graus no Ano Novo, enquanto nevava em vários pontos do país -, as pessoas são muito mais abertas e simpáticas. É divertido caminhar pela rua. Os homens fazem gracejos, as informações vem acompanhadas de sorrisos, vendedores te tratam bem. Pode parecer o mínimo, mas aqui, em muitos lugares, não é.

Ali conheci pela primeira vez uma Plaza de Toros e, apesar da pena que me dá o ritual do espetáculo, fiquei com vontade de ver uma tourada de verdade. Ali também chorei, novamente de emoção, ao ver o espetáculo de Flamenco em um pequeno pátio. Compartilhei com uma pequena platéia, concentrada, os gestos da bailaora que nos fazia sofrer só por mirar sua expressão. Que nos tirava do nosso mundo e nos transportava para o dela. Que nos mostrava as durezas da vida com suas pisadas fortes. Com sua respiração ofegante.

Eu me senti numa novela de García Marquez, mas nada me convencia de que não era um filme de Almodóvar. Eram suas cores, seus movimentos e seus sons. Mas e aquele pátio? De onde poderiam sair as redes onde eu balançaria sem cessar nos eternos dias chuvosos de Macondo?Era ali, tinha certeza. Não? Pois para mim, sim.

Saindo daquele pátio, ainda envolta na música e na dança, caminhei por Santa Cruz, o bairro mais lindo da cidade, dentro de uma névoa. As fortes pisadas no tablado ainda ecoavam dentro de mim. Rumo ao albergue, molhava os pés nas poças e tentava domar o guarda-chuva. Fiquei ensopada, soltei uns palavrões desconexos. Tudo meio involuntário...Dentro de mim, o flamenco encontrava espaço no ninho das coisas pelas quais me apaixono e para as quais ainda quero me dedicar...Olé!


O Tablado de Flamenco da Casa de la Memória



sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Córdoba, a Mezquita, a chuva...


A segunda cidade da Andalucía que iríamos visitar nos esperava ensolarada, no fim de tarde de um domingo, quando chegamos tranquilas, depois de apenas duas horas de viagem saindo de Granada. Para ajudar, a hospedaria que escolhemos não poderia ser melhor - um quarto, e especialmente um banheiro, só para nós duas, por um preço menor que o do hostel.

Outra boa notícia: nas manhãs de segunda-feira, até as 10h, não se paga para entrar na Mezquita, a principal atração turística da cidade. Perfeito. "Madrugamos". Por dentro, realmente impressionante. Diz a lenda que são 1300 colunas de mármore constituindo sua base. Eu não contei, mas fiz uma média e deve dar mais ou menos isso mesmo, rs... O mais estranho é que a Mezquita foi tomada pelos cristãos depois da queda do Império Islâmico e eles construíram uma catedral bem no centro dela, como que demarcando o território e tornando o símbolo da religião árabe agora católico. O lado bom disso é que não a destruíram. Seria um crime, já que a construção é assombrosamente linda e cheia de detalhes muito ricos da arquitetura tradicional.

Além da Mezquita, a cidade conserva um lindo bairro antigo chamado Judería (outras cidades espanholas também têm o seu, como Sevilha e Segóvia), onde se concentram as "lojinhas" e a maioria dos bares de tapas. São muitos e dizem, inclusive, que a tradicional comida espanhola tem sua origem nessa cidade.

A segunda-feira nos permitiu ver a Mezquita de graça mas nos proibiu de visitar outros lugares na cidade, como o Alcazar, por exemplo, "cerrados los lunes". Além disso, chovia torrencialmente e fazia frio, assim que muito do que poderíamos desfrutar ficou complicado. Não é fácil ser turista na chuva, ainda mais se é inverno. Imagina uma pessoa segurando um guarda-chuva, que insiste em voar e virar do avesso, se localizando no mapa e ao mesmo tempo tentando tirar fotos dos monumentos. Um amigo reclamou que não tenho fotos minhas nos lugares que visitei. Claro! Imagina pedir pra alguém tirar um foto sua nessa situação. Eu pedi algumas vezes, mas sempre nos olhávamos com olhar de cumplicidade do tipo: OK, agora vale a pena! E tirávamos uma da outra.

Apesar da chuva, e do frio, Córdoba vale a pena, pela Mezquita e pela Judería. Em uma viagem pela Andalucía, gaste um dia ali. Coma os pratos típicos - Flamenquín, Salmorejo - e visite os principais pontos - são todos próximos. Fácil caminhar. Se possível, vá no verão. Pelo menos seu mapa não ficará assim, destruído...rs







quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Em Granada, perdida no tempo

Albacín visto da Alhambra

Alhambra vista do Albacín


Viagem longa, estudantes desempregadas (pelo menos eu), decidimos economizar de todas as formas possíveis. Reservei o que seria o busão do inferno. Saindo de Valencia as 23h do dia 25, chegaríamos a Granada às 8h da manhã do 26. Não dormi um só minuto durante toda a noite. Eram bebês se esgoelando, pais desconcertados sem saber o que fazer, passageiros árabes gritando línguas estranhas ao nosso lado. Gritando. Pessoas saindo pra comer e voltando com suas iguarias de cheiros peculiares. Eu fiz isso, me enfiei na Lays sabor jamón ou sei lá o que, descasquei duas mexericas e contribuí pra enfestar o ar.

Chegamos em Granada ainda escuro e chovendo. Melhor, caindo o mundo. Achamos o albergue em meio às ruas de paralelepípedos. Minha coluna rompida e minha conta bancária não me permitiram ainda adquirir um mochilão. Tinha uma mala de rodinhas. Imagina.

No hostel, fomos super bem recebidas, recomendo: Oasis Granada. Festa sem fim, jantares comunitários, "buen rollo" garantido. Café da manhã disponível, mesmo sem fazer o check-in, no esquema faça você mesmo (lave sua própria louça, inclusive). Adorei!

Saímos para a Alhambra nesse estado de conservação, sem dormir, pés encharcados (eu não, já que tinha adquirido um tênis impermeável, preparada para o que viria), guarda-chuva a postos.

O Palácio é absolutamente impressionante. A maior construção de arquitetura árabe no mundo ocidental. E olha que só na Espanha já são muitas. Dali começamos a sentir a importância e a influência dos árabes na região, não só nas construções, mas na comida (cenamos em um deles, pra fazer sentido), nas lojas de artesanato.

Mais que a Alhambra, que já vale muito a visita, Granada tem muito de magia no ar. Não saberia explicar, mas fez com que ela fosse a segunda da lista de preferidas, ao final da viagem. Talvez seja também pelo Albacin, bairro antigo da cidade, onde ficamos hospedados. Suas ruas curvas, de pedras, e desertas, parecem te levar a lugar nenhum e te transportam imediatamente para o passado - tempo em que os muçulmanos dominavam a cidade e boa parte do país.

Não é mágico sentir que você faz parte dessa História por alguns momentos? Eu lembro de ouvir isso tudo sentada na minha cadeira de escola, quando criança... Estar ali, vendo com meus próprios olhos, é muito mais que ilustrativo.

A cidade é incrivelmente especial e ainda reserva curiosidades como casas dentro de cuevas (cavernas, diríamos), que eram anteriormente habitadas por ciganos, e hoje são habitações regulares, supermercados (foi assim que conseguimos conhecer uma delas. Compramos uma água e pronto, nem entramos no museu). Basicamente são casas cujos tetos, de pedra, são naturais, não foram construídos, se não adaptados.

Granada mexeu tanto que mudamos a passagem do ônibus para ficar mais, mas logo tivemos que ir. Com vontade de ficar, seguro...Mas também é sempre bom ficar com esse gostinho de quero mais...


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Feliz Navidad!




Jamon y queso. Pão. Lichia, morango, cereja, uva e mexerica. Cava. Turrón. Essa foi a Ceia de Natal que tivemos eu, Ana Clara e Camila no albergue do hostel em Valencia, destino que escolhemos para passar a Noite de 24 por ser uma cidade grande, que imaginamos animada.

A cidade em si ficou classificada, no final da viagem, como a menos preferida, por assim dizer. Tudo bem que era Natal e o clima muda. Todos estavam com suas famílias, buscando algo mais que pura diversão. Nós, num albergue semi-deserto, tivemos medo de comer miojo. Contrariando os avisos de "Proibido consumir bebida alcoólica nas dependências", nos escondemos no banheiro para estourar timidamente a típica cava e mantivemos a "botella"dentro do saco plástico, pra disfarçar. Trocamos "regalos"singelos. Comemos o que nós mesmas preparamos, com o que compramos no típico mercado local, dispostos em pratos plásticos e cortados com facas de festa infantil.

Foi especial! Estavámos no nosso clima, vivendo um momento absolutamente único. Seguramente, essa ceia não será facilmente esquecida por nenhum das três.

A cidade tem seu charme, seus pés de laranja/mexerica espalhados pela praças e calçadas. E vale a pena pela Ciutat de la Ciencia, absolutamente destoante do resto, com suas construções mega modernas, by Santiago Calatrava, famoso arquiteto nascido ali mesmo.

No mais, fizemos nosso Natal. Depois da ceia e da noite em alguma disco que não vou lembrar o nome, fomos, no dia 25, à praia, pra honrar nossa veia brasileira e comemos paella valenciana (com frango no lugar dos frutos do mar), pra honrar nossa visita. E cantamos, durante todo o dia, "Feliz Navidad"!









terça-feira, 19 de janeiro de 2010

E três meses depois...

Hoje completo três meses de Barcelona e quase um mês sem postar nada no blog... Mas tenho uma boa razão para isso: estava fora do mundo, ou melhor, visitando parte dele - rodei a Espanha e acabei o tour em Paris.

Foi um período mágico, de mergulho na História e no passado, nas tradições e na cultura, nos costumes. Um período de encontros e reencontros, de expectativas criadas e alimentadas, de ilusões destruídas, de sentir a realidade pulando a sua janela e te mostrando que ela existe e não é simples. De vontade de me esconder embaixo das fantasias dos bailarinos do Cirque du Soleil, de vontade de enxergar o mundo através das lágrimas que eu não pude conter ao ver os movimentos da bailaora de flamenco, de vontade de sentir sempre na boca o gosto daquele chá que eu provei no andar de cima da Shakespeare and Company em Paris, quando parecia estar vivendo em outro tempo, no tempo em que, segundo Hemingway, se podia viver em Paris com poucos dólares no bolso, e quando Silvia Beach emprestava livros e dinheiro para escritores pobres e promissores.

Ainda digiro e processo o montão de emoções que me alimentaram durante esse último mês, que na verdade são apenas a intensificação do que tem acontecido nos últimos três, e que também são o prolongamento de tudo que tenho vivido especialmente nos três recentes anos, quando olhei pra trás e decidi começar de novo, ser a mesma Jaque que era antes, pra poder tentar ser completamente diferente...

"You are what you are
That is what you become
And that can be
even a star or a stone"
(poema lido durante o Georges`s tea, no prédio da Shakespeare and Company) Escreverei um post só sobre isso. Merece