domingo, 7 de novembro de 2010

Here we go again


Há exatamente um ano, escrevi o primeiro texto desse blog, que abrigou histórias bizarras e foi motivo de muitas risadas, mas acabou sendo meio que abandonado por motivos de força maior. Era tanta coisa interessante pra ser escrita que eu preferi viver essas coisas a contá-las no blog. Faz sentido, vai....

Enfim, não é que as coisas interessantes tenham parado de acontecer, mas é que a vida mudou, e nada melhor do que começar a escrever sobre uma nova fase da vida, né? Era só o tempo de me organizar um pouquinho... afinal, todo começo é meio tumultuado, mas cá estou de volta.

Agora, uma coisa, o nome do blog ficou meio desatualizado. O balcón de Barcelona virou uma janela, charmosinha até, na Vila Mariana, em São Paulo, meu bairro do coração nessa cidade, que não tem o charme de Barça, mas tem um algo especial que me faz sentir em casa, mesmo não sendo minha terra natal.

Em dois meses de Sampa, voltei a trabalhar no meu antigo emprego, reencontrei quase todos os meus melhores amigos, dei muita, muita risada e vi e ouvi muita coisa boa: de Saramago by Chico Buarque a Black Eyed Peas, passando por Kings of Leon, Bajofondo e Jamiroquai (again), além do absurdo Tropa de Elite. Votei para presidente, fiz check-up médico, fui pra Borborema fazer nada, mostrei meus dotes de artesã ao lado da minha mãe e voltei para uma voltinha por Londres, a trabalho. Curti minha casinha, meus housemates, descobri que o supermercado aqui é mais caro do que lá, paguei três meses de academia antecipados - pra não correr o risco de desistir - e dormi na metade das aulas de ioga a que compareci.



Comi a coxinha do Veloso, passei o sábado na Benedito Calixto e a noite na Augusta, tomei chuva e levei olé do busão. Afinal, assim é São Paulo, né...com todas as suas crueldades e não-belezas, é a cidade que aprendi a apreciar e adorar e é onde eu vivo, pelo menos por enquanto, meus sonhos e meus momentos.

O nome do blog não vai mudar, afinal de contas o balcón en Barcelona só foi possível graças a São Paulo e vai ficar como uma homenagem a mais um sonho conquistado nessa cidade, de oportunidades e experiências inigualáveis, para mim e muito mais gente. Só quem vive, sabe como é.

Deu Barcelona
Olá São Paulo
É muito bom estar aqui novamente, mi balcón!



segunda-feira, 7 de junho de 2010

Contagem regressiva







OK, eu sou ansiosa mega. Ainda falta mais de um mês pra eu ir embora de Barcelona, mas o sentimento de despedida já começa a me rondar. Talvez dois motivos colaborem ainda mais pra isso: o de indefinição, já que ainda não sei quando vou embora porque tenho pendências burocráticas pra resolver - e isso me deixa ainda mais louca ansiosa - e o de apego. Acabo de ler um livro que me deixou ainda mais envolvida com essa cidade. Melhor dizendo, enfeitiçada.

Todo mundo que me conhece um pouquinho sabe da minha paixão por coisas esquisitas - prédio antigos, casas abandonadas, histórias e pessoas raras. O livro - La Sombra del Viento - conta uma história de mistério em Barcelona. Pra quê? Tive que ler o "tocho" de quase 600 páginas em duas semanas, em meio a trabalhos e mais trabalhos. Fins de semana na praia ajudaram vai. Fiquei autista por muitos instantes.

O mais legal é que a história se passa numa Barcelona que não é a de hoje, mas é a mesma em que eu vivo. Porque essa cidade tem isso de encantador. Eu "viajo" ao andar em certas ruas e imaginar que havia gente morando ali 2000 anos atrás. E de imaginar quem já viveu e morreu naqueles casarões antigos, hoje compartidos por dezenas de pessoas e antes por famílias endinheiradas. Me encanta saber que a parte "decadente" da cidade é onde antigamente dominava a sociedade. E imaginar como seria aquilo tão diferente naquela época. E tão igual.

Chamar o bairro gótico de "decadente"é um crime, por isso as aspas. É o lugar mais sensacional da cidade, que divide o velho e o novo, que respira arte e guarda a energia da cidade. O lugar mais vivo, agitado e até hoje em alta, seja de dia ou à noite. O Gótico vai ser o primeiro tema dos próximos textos, que em clima de retrospectiva vão tratar das belezas dessa cidade linda, onde não poderia deixar de ter estado e vivido.

Continua...






quinta-feira, 27 de maio de 2010

De ter uma alma cubana


Eu não sei de onde veio. Nem como começou, nem porque. Só sei que foi assim. Uma hora me dei conta de que gostava muito de Cuba. Isso já faz tempo. Acho que foi no colegial. Interessava-me pela história, pelas pessoas, pela cultura. Pelo fato de ser uma país entre poucos que viviam em um mundo à parte. Acho que eu tinha uma alma vermelha na época, iludida, sonhadora.

Eu prometi a mim mesma que Cuba seria a primeira viagem que faria quando tivesse meu próprio dinheiro. Uma alma vermelha não iria pra Cuba bancada por alguém. E assim foi.

Em 2007, desembarquei no aeroporto de La Habana, em minha pela primeira vez fora do Brasil, para passar 3 semanas na casa de uma família cubana e poder aproveitar o máximo que pudesse do que o país tivesse para me oferecer.

Melhor impossível.

OK, eu não tinha viajado nada antes, então tudo que viesse seria ótimo. Mas, ainda assim, eu viajei bastante depois disso, e Cuba continua no primeiro lugar do pódio.

É claro que entram aí causas sentimentais. Eu já nutria uma atração pela ilha e isso só aumentou convivendo com seu povo absurdamente simpático e apaixonante. Gente culta, que te surpreende por saber coisas que às vezes nem você sabe direito. Não porque eles não poderiam saber mais que eu sobre o Brasil, o Lula, ou o Roberto Carlos, mas porque eles só têm 4 canais de televisão e todos os jornais são feitos pelo governo. A informação é um tanto quanto limitada, por assim dizer.

Mas Cuba é apaixonante pelo que é e pelo que não é. Pelo sorvete pelo qual todos são fanáticos (morango ou chocolate), pelo cinema a centavos, pelo balé e pelo esporte, pela medicina, pela suposta (bem suposta) igualdade. Pra mim é orgulho porque lutou contra algo que ia contra sua natureza, que fazia mal para sua população. O que veio depois disso, a forma como foi governada, as medidas que foram tomadas, absolutamente questionável.

Na minha aula de espanhol, ouvia arrepiada minha professora contar de como ajudou a acabar com o analfabetismo na época da Revolução, enquanto chamava Fidel de companheiro, com propriedade. Eu me sentia perto de uma heroína, de alguém que tinha lutado por seus sonhos, pelo que considerava justiça.

Senti orgulho de saber que eles não tinham aceitado a invasão norte-americana e suas restrições, e tinham imposto sua personalidade, sua vontade.

Essa noite eu revivi muito disso. Das surpresas de viver, ainda que por pouco tempo, em um lugar tão distinto, das emoções que vivi enquanto estive ali. Da saudade do lugar, das sensações, dos sentimentos, das pessoas. Da vontade de que aquilo tivesse dado certo e fosse um caminho a ser seguido.

Da vontade de poder ver, como ali, todas as crianças de uniforme, indo pra escola, e de encontrar, em cada esquina, alguém que faça música por amor, por paixão, por talento. Em Cuba, eu encontrava um atrás do outro. E o Buena Vista Social Club é um conjunto dos melhores, sem dúvida. E olha que são muitos os bons. Muitos.


Estou de alma lavada. E quero voltar a Cuba.


segunda-feira, 24 de maio de 2010

De bicicleta rumo ao paraíso: Formentera






A primeira vez que vi essa ilha nem sabia se existia de verdade. Foi há uns 5 anos, imagino, vendo o filme "Lucia e o Sexo". Por acasos do destino, revi a película este ano em companhia das minhas inseparáveis amigas de Barcelona e então descobrimos que o paraíso que servia de cenário era a ilha de Formentera, localizada a curta distância de Ibiza e, por consequência, de Barcelona.

Com a previsão de calor chegando, marcamos nossa passagem e reservamos hotel com destino ao paraíso. Assim imaginávamos. Mas a palavra "paraíso" pode ser trocada por "absurdo", porque na verdade a beleza de Formentera é indescritível.

Uma ilha praticamente selvagem onde só se chega em barco e é proibido acampar, onde se estimula que as pessoas andem em bicicleta e onde as praias são em sua maioria, grandes desertos de areia branca banhada por água azul, transparente, de emocionar ao olhar.

Em suas areias, nos deitamos e ouvimos o silêncio, agradecemos pela vista tão especial e tentamos falar baixo (principalmente eu) para respeitar o momento de cada um à beira do mar. O silêncio é a trilha sonora de Formentera.

Hippies, gente completamente nua, gente desapegada de maiores confortos, gente disposta a curtir a natureza. Foi o que fizemos. Em bibicleta, chegamos a uma ponta da ilha, à outra, chegamos ao agujero. Também cenário do filme, é um buraco no chão de uma parte alta da ilha, de onde se pode chegar a uma pequena caverna e ter uma visão incrível da imensidão do Mediterrâneo circundando a ilha.

Em um momento como esse, nos sentimos pequenas, infinitamente pequenas, diante de tamanha beleza. E constatamos como existem rincões no mundo a serem explorados e desfrutados, se os conservamos. Formentera é bem cuidada. É sem igual. Tem, além de beleza, uma energia especial que te relaxa e te faz sentir realmente em outro planeta. Até ETs acreditamos ter visto, mas isso é tema para outro post...

Hasta luego, Formentera. Vales imensamente la visita!


terça-feira, 18 de maio de 2010

Do repertório e sua repercussão

Começo a escrever mesmo sem saber o que segue. Só deu vontade e me senti em dívida com o pobre blog, aparentemente deixado de lado. São os trabalhos e os trabalhos. E as viagens também, confesso, e as distrações do dia a dia. Não sou de ferro e esse deveria ser meu ano sabático, ok.

Daí vem a reflexão. Do repertório. É mais ou menos sobre como só encontramos graça nas coisas que nos fazem referência em algo. Digo isso porque vivo em mundos muito diferentes. Mas quase sempre foi assim. Desde que morava em Borborema e não me identificava com as "amiguinhas" das festas de trabalho do meu pai. Não queria socializar e ponto.

Quando saí de casa, enfrentei isso de leve. Não tinha com quem fazer brincadeiras com coisas do passado, ninguém entendia. Em São Paulo, ainda mais. Numa época, fazia pesquisas sobre como alguém dizia pano de prato (no interior em geral se diz guardanapo) ou se alguém sabia o que era errorex (o famoso branquinho). Enfim, aos poucos fui formando novas referencias e as piadas começaram a existir, uma vez mais.

Assim também no meu ex-trabalho, onde fazia um monte de brincadeiras que hoje já não fazem quase sentido, mas que eu insisto em continuar fazendo. Agora me deparo com outro desses: trabalho num ambiente absolutamente catalão, o que significa que não entendo muito mais da metade do que eles falam. E não tenho vontade de entender, o que é pior. Enfim, vivo apartada. E o mais raro, não me preocupo.

Em compensação, tenho com minhas amigas de Barcelona piadas que só nós entendemos. E já começo a me preocupar que quando quiser fazê-las ninguém vai entender... Enfim, encontraremos outras.

Afinal, essa minha vida tem sido a arte de intercalar estilos abolutamente nada a ver e conseguir sair-me mais ou menos bem em todos eles. Afinal de contas, um ano de vida na Europa não tem muito a ver com minha vida em Borborema. Nem pegar um busão cheio de baratas pra ir trabalhar na Daslu. Ou comprar uma saia em promoção na C&a pra um evento do cliente chiquetoso no Fasano.

Um sábio amigo já me dizia que o bom de vir de baixo é que é muito mais fácil se adaptar ao mundo de cima. E que o contrário é quase impossível. Acho que concordo.







domingo, 2 de maio de 2010

Como minha Melissa foi parar no trilho do metrô

A vítima

"Mira, mira!"

Marcela Chacur, depois de ver minha sapatilha caída no trilho do metro, dois minutos antes do trem chegar, para um grupo de catalães que ela enxergou como a esperança de resgate.

"O trem tá chegando, o trem tá chegando!"
Eu, desesperada, depois que um dos catalães não pensou duas vezes e pulou na linha do trem para salvar a sapatilha de ser esmagada e de possivelmente causar um problema no metro.

"Como foi que eu não registrei isso? Onde foi parar minha veia jornalística?"
Adriana Moreira, indignada por não ter sacado fotos da sapatilha abandonada justo em cima do trilho do metro, nem de registrar a minha pessoa com cara de choro repetindo: "Vai amassar minha sapatilha, vai amassar minha sapatilha" e nem do semblante de herói do menino catalão depois que seus amigos o puxaram pelos braços de lá de baixo. E a galera aplaudiu.


Tentando o salto


Tudo aconteceu assim. Chegamos à estação. Faltava pouco mais de dois minutos para o trem chegar. As meninas queriam tirar fotos da minha imitação furada do salto do Chaplin. Aquele em que ele paula de ladinho e encosta um pé no outro. É sempre uma atração à parte. Tentei em Portugal, em Milão, na Barceloneta, nas Ramblas, em todo lugar onde haja um mínimo de espaço e platéia. Não consigo. E é ridículo. Consequência: diversão garantida.

A proposta: vamos tirar uma foto do seu pulinho de Charles Chaplin. No metrô. OK. Várias tentativas. Fotos borradas. Última vez. Pego embalo. Me empolgo. Corro. Salto. E vejo a sapatilha efetuar alguns giros no ar antes de cair, placidamente, em cima do trilho do trem. Enconsto na parede, inconformada. Escondo uns furos da minha meia. Nem passa pela minha cabeça saltar nos trilhos. São quase 3h da manhã. Nenhum funcionário do metrô à vista. Chega um grupo de catalães borrachos. Marcela pede ajuda. O menino não titubeia. Pula. E não volta. Celebra lá embaixo. E eu vejo a luz do trem. Desespero. Parece cena de filme. Ele é arrastado para cima por seus amigos. E eu agradeço imensamente.

Obviamente, depois de agradecimentos e risadas, veio a pergunta inevitável: como você fez pra jogar a sapatilha no trilho do trem? E, depois de contar a história, seguimos em grupo para trocar de metrô. Todos tentando conseguir fazer o famoso pulinho. Eu só fiquei olhando. E rindo.



Os heróis. O de jaqueta de couro e olho torto foi o corajoso que pulou.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Numa terra bilingue

Ok, eu já sabia. Quando dizia que vinha pra Barcelona, muita gente me perguntava se não teria problemas com o catalão e me alertava para o fato de a língua ser dominante, em vez do espanhol. Eu dizia que não e tudo bem. E tudo bem mesmo. Na verdade, nunca tive problemas. Até porque todo mundo que fala catalão também fala "castellano". Eles são naturalmente bilingues. O que é animal.

O problema é que eles são muito mais catalães que espanhóis. E aí, na hora do vamos ver, predomina o catalão. Na faculdade, por exemplo, é comum que um professor comece a falar palavras em catalão no meio da aula, ou que algum aluno faça perguntas em catalão. Entre os alunos, na aula, quase sempre rola uma parte da conversa em catalão, até que eles se dão conta e voltam ao castellano comum a todos.

Forte mesmo foi no meu trabalho. A reunião só foi feita em espanhol por minha causa, já que eu era a única que não falava a língua. Me senti um pouco mal, principalmente meu chefe começava a frase em catalão e mudava quando me via. No dia a dia, já me acostumei, entro e digo: "Bon dia", quase como em português, só que o "d" mais na ponta da lingua e saio e falo: "deu". Basicamente. Das conversas, não faço parte, porque tenho preguiça de me esforçar pra conversar. Mas entendo.

Não imagino o que seja nascer praticamente com duas línguas, mas posso ver que não deve ser nada fácil. Todo o tempo ouço perguntas do tipo: como se escreve isso em castellano? Ou constatações, quando pergunto o que significa tal palavra, "putz, não sei como se diz isso em castellano". Bizarro.

É uma língua diferente, uma cultura diferente, uma forma de falar diferente. Eles engrossam a voz quando querem ficar putos, gritam bastante e falam palavrão pra "carai". Imitações péssimas à parte, adoro os famosos "hóstia, tio", "ostras", "jolines", "me importa un pepino", fora os mais conhecidos: "cabrón", "joder, macho". Essa semana ensinei a uma espanhol do meu grupo de trabalho do Master a falar um palavrão muito particular meu. Agora ela só fala isso quando está puta. Viva o intercâmbio linguistico!



quarta-feira, 14 de abril de 2010

Cumpleaños feliz!


Fim de festa regado a algodão doce!






Feijoada, caipirinha e...música!



A comemoração está programada para começar já na véspera e o primeiro presente chega antes da meia-noite: Barça 2 x 0 Real Madrid. E ainda acertei a porra (aposta) para o jogo! Pena que não valia dinheiro...

0:00 - começam os beijos e abraços daqueles que passaram a fazer parte da minha vida há tão pouco tempo, mas já são essenciais e indispensáveis. Direto para a festa, dançamos e nos divertimos e, pouco a pouco, nos rendemos. Estou "agotada". E amanhã ainda tem mais.

Pichi e sua torta na cara


Como sempre, me atrapalho e me atraso para minha própria festa. Os mais pontuais já me esperavam :-(

Mas olha, no final, não podia ter sido melhor: feijoada no ponto, caipirinha preparada com amor, bolo e brigadeiro feitos com o coração. Impossível não encantar a toda "la gente".

O cumpleaños feliz teve até bolo na cara, a la "Chavo del Ocho"! Idéia de uma mexicana, claro! Pra quem não se conformava com a idéia de que eu havia concordado com a brincadeira , eu argumentava que tinha que entrar no clima. Celebração é celebração. Por isso cantamos Parabéns pra você"em português, catalão, castellano, inglês...


los mexicanos los catalanes los brasileños!!



Incansáveis, partimos para a praia. Sentados em roda, tentamos cantar músicas comuns a todo. Missão difícil que nos divertiu "un montón".

Fim de festa à lá Hollywood, comemos algodão doce no Parque de Diversões (gracias Isa!), ganhei um bichinho de pelúcia da brincadeira de atirar (e acertar) em balões (de um zuka/tuga tão fofo!!!). Não queria que o dia acabasse. Arrasto as sandálias rumo à casa completamente satisfeita!

Obrigada a quem compartilhou comigo desse momento e a quem se lembrou de mim, estivesse onde estivesse e da forma como fosse!

Aniversari mès que feliç! :-


quarta-feira, 31 de março de 2010

Primavera chegou

Desde que cheguei a Barcelona minhas roupas se resumem a sobreposições de casacos e meias. Principalmente meias. Ninguém dá crédito pra minhas pernas. Acham que é tudo à base de enchimento. Em parte, é verdade.

Enfim, isso não vem tanto ao caso. O que importa mesmo é que as camadas de meias e de casados têm diminuído. E isso é um bom sinal. O calor está chegando. São muitos os indícios. Começando pelo lado oficial: o relógio foi alterado. Estamos uma hora a frente agora, o que representa 5 horas além do Brasil e quase 14 horas de sol por dia. Das 7h até quase 21h ele está lá, iluminando o céu barcelonês, radiante. Além disso, o clima de primavera já está no ar. O frio é um friozinho, não inclui mais aquele ar gelaaaado, cortante. O que mata, ainda, é o vento. Para os nossos programas preferidos de fim de semana ou de tarde, basicamente praia ou parque, isso é um detalhe fundamental. Engana. Você olha pela janela e vê o dia lindo lá fora, mas é só ficar um tempinho parada, ou ver o sol sumir, que lá vem o frio uma vez mais.

A mais importante mostra de que o verão está chegando é que Barcelona está ainda mais lotada de gente. Loiros e ruivos falando inglês, principalmente. Minha mãe!! Quanto turista há nessa cidade. Eu moro relativamente perto do Parc Guell, um dos pontos mais visitados na cidade. Esses dias presenciei a cena: uma fila interminável deles voltava do parque, descendo pelas estreitas calçadas de Gracia, em busca do "bus rojo", aquele que todas as cidades turísticas têm, e que os leva de um monumento a outro. Ah, e tinha fila também pra entrar no ônibus.

Decidi caminhar um pouco pelas Ramblas pra ouvir o linguajar turístico e me sentir orgulhosa por ser mais que uma visitante na cidade. Não dá. Andei trombando com a galera. Me refugiei numa loja, que encontrei por acaso. Incrível, por sinal. Casa de Música Beethoven. Curiosa: vende partituras de diversos artistas e grupos, dos clássicos mundiais, como o que dá nome à "tienda", ao atual e local "Sopa de Cabra. Livros sobre história da música, coisas raras.

Aí eu entendo porque tanta gente olha no mapa, quando decide tirar férias ou viajar no feriado da Semana Santa, como é agora, e escolhe Barcelona. Além das visitas manjadas, obrigatórias, a cidade tem muito mais a oferecer.

Não é mais do que bacana caminhar por "Las Ramblas" e dar de cara com um "Edward mãos de tesoura" que também sabe fazer cara de gato de botas? Isso é Barcelona! Que venha o verão!



domingo, 28 de março de 2010

Eu, Woody Allen e o Palau de la Música Catalana







































Eu sou capaz de pegar o metrô em vez do táxi ou de andar um montão a pé só pra economizar 2 euros, de olhar todos os preços no supermercado, para quase sempre comprar o mais barato. O que eu não sou capaz, quase nunca, é de perder oportunidades de viver experiências memoráveis. Hoje vivi uma delas.

21h. Estou eu sentadinha esperando que comece o concerto de ninguém menos que Woody Allen, acompanhado de sua banda de jazz, no nada menos incrível Palau de la Música Catalana. Poderia haver combinação mais especial?

O Palau é uma dessas jóias da arquitetura de Barcelona, que eu não me canso de admirar. Nunca tinha estado dentro e por isso resolvi chegar antes do show, pra poder observá-lo com dedicação. Foi o que fiz. De onde estava sentada, estrategicamente na lateral e no andar de cima, não tinha a melhor visão do palco, mas podia ver o Palau em todos os seus ângulos, cores e curvas. Boquiaberta, acomodei-me a esperar.

Estava tão besta, que não reconheci uma companheira do trabalho, que me cumprimentou e ficou no vazio, enquanto eu continuava no meu autismo olhando o teto, os pilares, os vitrais... Vergonha, não sabia o que fazer depois.

Em alguns minutos, os músicos entraram, tomando suas posições. Piano, violoncelo, bateria, metais. Os metais. Ele chegou assim, miudinho, andando devagar. Os cabelos brancos, aqueles óculos grandes, sapatos que parecem sobrar nos pés. Sentou-se e começou a soprar.

Nessa hora, eu já estava chorando. Foi imediato, assim que o pianista sentou a dedilhar. Não porque que a música fosse bonita. Também. Sim porque sempre que vivo experiências como essa imagino que não as podemos deixar passar nunca na nossa vida. A situação, basicamente, era a seguinte: eu estava sentada em um patrimônio histórico da humanidade, símbolo da arquitetura modernista catalã e com mais de 100 anos de história. Em cima do palco, a incrível banda de um gênio. Não sei dizer se ele é genial fazendo jazz, só sei dizer que ele é genial fazendo cinema e por isso eu estava incrivelmente feliz em estar ali, em dividir aquele espaço com alguém que fez o que ele fez.

Não à toa, me arrepiei e meus olhos se encheram de lágrimas quando ele disse: "É muito bom estar de volta. Barcelona é um dos meus lugares favoritos no mundo" Eu lembrei de "Vicky, Cristina, Barcelona", de como ele mostrou a cidade, de como eu me encantei com o filme, de como projetei minha vida aqui, de como a música ficou na minha cabeça. Lembrei de Match Point, Melinda & Melinda, Manhatan. Lembrei de que esse momento não sairia tão cedo da minha memória visual, auditiva, sentimental.

Lembrei que vivia em uma das cidades mais bonitas do mundo, e isso estava ainda bem fresco na minha memória, já que durante o dia, com o sol brilhando e a semana santa européia rolando, Barcelona estava lotada de gente, caminhando, olhando mapas, tirando fotos. Tenho um orgulho enorme de viver aqui. Um amor que adquiro a cada dia pela cidade, pela forma como surgiu, como foi pensada e estruturada. E pela forma como é possível descobrir nela uma coisa mais bonita todos os dias.

Eu sempre tento não deixar de viver experiências incríveis como a de hoje, nem que isso exija semanas de economia mais forçada. Vale a pena. Até porque tudo que é bom sempre exige mais esforço. Woody Allen merece. O Palau também. Meus ouvidos e meus olhos agradecem. Minha memória também.



segunda-feira, 15 de março de 2010

Itáaaaaaaaaliaaaaaaaaaa, má que?


Qualquer pessoa que eu conheço tem um pezinho na Itália ou conhece um monte de gente que tem. Eu tenho. Minha avó nasceu lá, bem no final do cano da bota, na comune de Massanzago, pronvíncia de Pádua, não muito longe de Veneza. Hoje em dia, mais de 80 anos depois dela ter deixado a cidade, a população é de menos de 5.000 habitantes. Imagina naquela época. Fora que fazia um frio desgraçado, me contava dona Tereza. Pra não passar mais frio, e nem fome, sua família decidiu embarcar com destino ao Brasil. E onde foram parar? Em Borborema.

Pelo visto, meus bisavós não gostavam muito de aglomerações mesmo.

Enfim, o que importa é que o sangue italiano é uma desculpa pra eu poder comer bastante macarrão, pizza, lasanha, gnochi, hum... e falar alto, gesticulando com a mão. Pelo menos é o que eu argumento quando alguém repreende meu volume um pouco exagerado.

Mas o que mais importa mesmo é que fiz uma visitinha relâmpago a este país vizinho e tãaaao peculiar.


Tudo começou no guichê pra alugar os carros. Tudo que perguntávamos, em inglês, o cara respondia em italiano ou suposto espanhol, não sei. Preocupadas com o fato de dirigirmos muito, pagamos por dois motoristas e ele cobrou por isso, mas nenhum documento provava quem podia dirigir. Ele disse que não tinha problema. Na estrada, 1.999.786 placas, uma em cima da outra, mostravam as diferentes direções para onde se podia ir. Quando nos decidíamos, nunca seguras de haver acertado, logo vinha outra placa que contradizia o que havíamos visto. Isso quando a distância até nosso destino não aumentava conforme avançávamos na estrada. Afe...
Chegando em Milão, eu dirigia, virando pra lá, voltando pra cá. Para ajudar, demos de cara com uma manifestação. Imagina o que são italianos barulhentos fazendo "barulho". Minha mãe.

Em uma esquina, não sabia o que fazer. Reticente, levei várias buzinadas e quando dei licença pro carro detrás passar, ouvimos uns palavrões que não entendemos perfeitamente a princípio, mas como o italiano possesso gritou sem parar e repetiu várias vezes, chegamos a conclusão de que seria algo entre "mongolóide"e "pata". Ou os dois. Tudo que fizemos foi ficar um pouco assustadas com tanto entusiasmo e rir.

Bom, a saga do carro durou a viagem toda. Nosso hostel em Milão, no estilo viagem perrengue, de quem economiza cada centavo, ficava a 8 quilômetros do centro da cidade, mas isso não especificava que havia um monte de obras no meio do caminho e que repetiríamos o mesmo caminho mais ou menos umas 15 vezes antes de encontrá-lo. No outro dia, rumo a Florença, fomos um pouquinho melhor. Demoramos a sair da cidade, mas logo nos encontramos.

Na volta, San Gimignano nos proporcionou aquela vista da Toscana dos filmes. Ainda bem que não estava dirigindo nessa hora. Pude admirar. Em Pisa, achamos que chegaríamos e daríamos de cara com uma torre que nos guiaria pelas ruas, como que nos chamando em sua direção. Que nada. Rodamos, rodamos, rodamos. E ainda mais pra sair. Nunca vi como gostam das famosas rotundas, que fazem você parar, olhar para um lado, para o outro e, na maioria a das vezes, continuar em frente.

Chegamos a Bergamo, nosso destino final, o aeroporto, as 3h da manhã, sendo que nosso voo saía às 8h30. No melhor estilo perrengue parte 4 decidimos ficar direto no aeroporto, sendo que alguém teria que ficar no carro para devolvê-lo no dia seguinte.

Resultado: saquei todas as roupas da minha mala, enrolei os pés, fiz travesseiro e cobertor e deitei ali como se fosse a melhor cama do mundo. Obviamente não consegui dormir um segundo, porque além do desconforto, que nem era o pior, meu pés pareciam dois picolés de tão gelados, já que fazia quase 0 graus lá fora e as dondoconas aqui, eu e minha inseparável companheira Ana, achamos que íamos ficar quentinhas dentro do carro. Ligamos o ar quente, viramos pra lá e pra cá e nada. Tão logo começou a amanhecer, apareceu o ônibus que nos levaria até o aeroporto. Ali, pelo menos, estaríamos mais quentinhas. E foi o que fizemos. Encontramos nossas amigas em um estado tão conservado quanto o nosso, esperando pelo que seria o voo dos infernos. Esse do qual já falei no post anterior.

E olha, nada disso tirou o fato de ter sido uma viagem mágica e quase perfeita, porque a Itália é linda, as paisagens incríveis, a comida incomparável, os italianos, com seu sangue quente, chiques e cheirosos e o que dá mesmo, depois de tudo isso, é vontade de voltar. Quem sabe logo mais!

E ainda conto aqui a experiência comida-arte-paisagem. No próximo...

Esse vídeo define perfeitamente o que é a Itália :-)

terça-feira, 9 de março de 2010

Meu santo é forte


Minhas mão suavam. Eu ria sem parar. De nervoso. O piloto falou: Vamos aterrissar no aeroporto de Reus. Eu entendi: agora é só rezar pra Deus.

Depois de 1h30 de atraso na saída do voo Milão-Barcelona, de vários avisos para não tirar o cinto durante a viagem e do anúncio de que o avião estava pronto para baixar, tipicamente seguido por aquele movimento de descida nada simpático, o comandante avisa que não vai conseguir pousar em Girona. O avião volta a subir e a fazer aquele barulho de motor de carro 1.0 ladeira acima. Jurei que nunca mais viajaria de Ryanair. Merda, quem manda ser pobre.

Seguimos para Reus, que é o aeroporto ao sul de Barcelona. Cacete. Estou ainda mais atrasada para o trabalho. Se meu chefe soubesse quanto eu queria estar sentada na minha mesa, quietinha... Alguns minutos depois, meu suor continua acelerado. Depois de começar a descer, voltamos a subir. Silêncio. O piloto então avisa que tampouco poderíamos aterrissar em Reus. Ou seja, acho que vamos ficar passeando no céu, na tormenta. A saída é apresentada: vamos para Barcelona.

Aí descubro que meu santo é realmente forte, porque ao primeiro anúncio de que Girona não nos receberia disse às minhas amigas: "bem que poderíamos aterrissar em Barcelona, então, né..." e na sequência mais uma prova: quando reclamo que vamos morrer com o prejuízo da passagem Girona-Barcelona que havíamos comprado, os italianos sentados a nossa frente compram nosso bilhete, depois de serem convencidos por uma catalã muito simpática, vizinha de poltrona e com pena de cinco estudantes de bolsos vazios vendo se esvair seus 11 sofridos euros.

Para completar o dia, foi a neve em Barcelona. E não foi uma nevinha não. Foi uma nevasca. Como não se via há 30 anos, 60, 150, sei lá. Segundo os mais exagerados, nunca se havia visto. Só sei que o fato, além de me proporcionar uma vista incrível da janela do trabalho, fez com que o dia terminasse melhor: não tive aula e pude ir direto pra casa, ainda com a mala da viagem, depois de passar a noite tentando dormir no estacionamento do aeroporto, com os pés congelados, e de dois dias sem conseguir tomar banho. Ops, acho que não era pra contar esse detalhe... mas continuo no próximo texto, finalmente sobre o fim de semana increíble na querida e vizinha bota, "sob o sol da Toscana".





quarta-feira, 3 de março de 2010

Esse texto é pro meu amigo Davi



Eu sei que tem muita gente que lê esse blog diariamente, semanalmente, quando lembra, nunca, sei lá... mas ele, especialmente, me pediu uma atualização, me disse que todos os dias acessava e que gostava, sinceramente, de ler meus textos. Vindo do Davi, me senti lisonjeada. Ele é um dos caras mais críticos que conheço, por isso foi escolhido para ser meu parceiro no TCC, já que eu também não fico muito atrás no quesito chatice quando o assunto são textos, correções, formas.

Bom, voltando ao Davi. Quero que ele personifique aqui a maioria dos meus amigos. Todos talvez não seja possível, já que tenho alguns de muitos anos, desde Borborema, mas pelo menos aqueles que conheci na fase mais recente da minha vida, em SP ou em Barcelona. O Davi me conheceu na faculdade. Depois de pouco tempo de amizade teve coragem de ser sincero comigo e disse que quando me viu pela primeira vez teve medo da minha pessoa. Imagina que imagem boa eu transmitia hein.

Bom, ele não foi o único. Muita gente dizia isso. Hoje, acho que as pessoas têm uma primeira impressão diferente. Obviamente, hoje eu também sou uma pessoa bastante mudada, pra melhor espero, mas enfim... isso não vem ao caso.

Fato é que ele não teve medo e aceitou o desafio de ser meu amigo. Resultado: é tema do blog de hoje. E olha que isso foi há 8 anos (Deus, como estamos velhos). Passamos quatro anos agarrados dentro do labirinto da Cásper e sábados consecutivos num antigo prédio da Praça da República, tema do nosso livro de final de curso. Juntos, "perdemos" nosso melhor amigo dos tempos da faculdade. Saímos diversas vezes para comer, poucas para beber, algumas para jogar boliche, war ou ver minhas intermináveis fotos de viagem - todas, sem exceção, pra nos divertir e dar muita, muita risada.

Ele é também um dos caras mais inteligentes que eu conheço. E mudou quase completamente desde nosso primeiro tête-à-tête. Sua personalidade, que é o que tem de melhor, continua lá, mas hoje em dia é uma pessoa muito mais doce e aberta. Conseguiu ser melhor do que já era.

Com ele eu dividi yakissobas no escadão da Gazeta, andei de ônibus sem ter dinheiro pra pagar. Foi ele quem me emprestou um vídeo cassete, no idos da mais profunda pobreza da vida de estudante, pra poder saciar minha fúrias pelos filmes. Foi ele que enxugou minhas lágrimas quando escrevemos "the end" no capítulo faculdade.

Sabe esses amigos para os quais você nunca precisa dizer muito? A gente se entende. Detalhe: ele é aquariano e isso representa uma boa parcela das pessoas mais importantes da minha vida.

Davi, você aqui representa aqueles amigos, todos, que me apóiam e consolam, com quem comparto alegrias e que, principalmente, me deram carinho quando estava machucada, física e emocionalmente (jamais esquecerei de vocês entrando pela porta do hospital com um pacote de carolinas, quando a visita já havia acabado).

Baita responsa, mas eu sei, você dá conta. :-)









terça-feira, 2 de março de 2010

Make sure the fortune that you seek is the fortune that you need


Sabe aquela luz no fim do túnel que buscamos continuamente e que nos faz acordar todos os dias motivados a realizar nossos sonhos? Fiquei pensando esses dias que, no final, ela pode ser nada mais do que um carro vindo ao nosso encontro ou, não sei, um poste.

Me explico.

Assisti Up in the Air. Muita gente deve ter visto também. Pois fiquei pensando depois do filme, num domingo à noite, em tudo que acabara de ver e ouvir. Tá certo que dei muita risada, em algumas cenas. Minha amiga Ana até me repreendeu em alguns momentos, dado o escândalo que fazia toda vez que ria. Típico.

Bom. Basicamente o que consegui resumir na minha cabeça foi que às vezes nos propomos alcançar certos objetivos, pelos quais lutamos incansavelmente e que, ao final, se revelam estúpidos e nada compensadores. E isso pode ser dar por dois motivos: 1) porque era realmente estúpido e só você seria capaz de achar que aquilo te faria feliz; 2) porque no meio de tudo você descobre uma outra possibilidade que realmente pode te realizar, muito longe do que você imaginava.

A verdade é que fiquei pensando: até que ponto colocamos barreiras para as coisas que podem chegar até a gente durante o percurso? Até que ponto limitamos nosso olhar apenas para a frente, sem nos permitir uma perspectiva de tudo que nos rodeia? Acredito que não deve haver nada mais triste que viver sem sonhar, mas e sonhar por algo que ao final se revela frustrante? Inútil?

Ouvindo música hoje, complementei meu pensamento: temos que lutar, e muito, pelo que queremos. Mas também temos que permitir que as coisas boas que aparecem pelo caminho possam mudar nossa rota ou passar a fazer parte dela. A letra, conhecida, diz assim: "make sure the fortune that you seek is the fortune that you need".

Exatamente.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Eu queria ser uma palhaça


Imagine como seria ser um palhaço. Todos, em algum momento da vida, já se colocaram um nariz daqueles redondos e vermelhos. Imagine... a sensação de ouvir o riso das crianças e seu rostinho de satisfação.

Eu queria ser uma palhaça.

Quando criança, ia tanto a um circo - o único que havia em Borborema - que sabia de cabeça todos os diálogos. E ainda assim, ria e ria.

E por quê? Porque sou um pouco tonta? Também pode ser. Mas também porque literalmente "entrava no clima". Somos assim, não? Eu sim, pelo menos. Me deixo levar pela alegria reinante. É isso. Como quando vemos os trapezistas, que com seus rodeios e quedas nos fazem também flutuar e sonhar com essa leveza inalcançada. E nos fazem temer a queda, única preocupação de quem está acima, muito acima.

A arte tem essa capacidade de nos transportar para longe da realidade, de gerar calafrio com um mero movimento de pernas mais brusco. Ou mais delicado. De causar uma lágrima ou trazer uma lembrança com uma nota musical mais grave. E funda.

Não são os palhaços que nos fazem rir. Somos nós que nos permitimos. Que nos deixamos alegrar.

Como num espetáculo do Cirque du Soleil, na vida é preciso ter muita disciplina para alcançar a leveza necessária e se deixar flutuar, rodopiar. Para sentir a liberdade dos movimentos e a sensação de superação.

Eu vi Saltimbancos há mais de um mês e fiquei boquiaberta. Recomendo para quem gosta de circo. E para quem não gosta. É "increíble". Ensaiei muito para escrever sobre isso, porque realmente mexeu muito comigo. Hoje decidi. Depois que o professor contou que foi palhaço por muito tempo. Foi surpreendente. Mas ao fim e ao cabo, todos temos um palhaço dentro de nós.

Eu pelo menos tenho, seguro!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O que eu quero


Quatro meses de Barcelona... já virou lugar comum dizer que é sonho realizado, alegria constante, satisfação maior ainda. Nessa semana, comemoro ainda mais que meu "aniversário" de catalã temporária. Comemoro que meu irmão entrou na faculdade - o segundo da linha dos nerds vai fazer Ciência Política na UNB. Me superou de longe. Comemoro que hoje é meu último dia sem trabalhar. Segunda-feira começo um estágio. E não é qualquer. É continuando o que eu amava fazer no Brasil, e que deixei pra trás pra vir pra cá. Não é ótimo unir o útil ao agradável?

Desse jeito, minha mente, que não pára de funcionar, já começa as fazer mais planos. Quem sabe eu não consigo economizar aqui, apertar ali e estender essa estadia ou incluir mais uma viagem no roteiro? Tenho apuntes diários para escrever no blog. Minha lista inclui textos sobre uma viagem incrível à cidade mais bonita do mundo - Paris -, um espetáculo do Cirque du Soleil, minha vontade ainda maior de morar na Itália depois de assistir a Nine, a indescritível sensação de poder comer no restaurante frequentado por Picasso, de assistir a Vicky Cristina Barcelona e sentir-se em casa ou de receber o convite de um amigo pra ir a um bar que ele descreve como "aquele, em frente à Sagrada Família".

Mas como estou na fase de que só faço aquilo que tenho vontade e quando tenho vontade, quis escrever esse texto assim, pra falar do meu irmão - meu orgulho - e de mim mesma, e explicar quanta coisa acontece quando a gente se abre para a vida e para as pessoas.

Mas eu me obrigo a escrever sobre o Carnaval de Sitges, isso sim. Mas só porque eu quero. logo mais.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ser feliz e mais nada...

Uma das minhas paisagens preferidas de Barcelona
Casa Bartlló

Sabe quando eu percebo que estou feliz? Quando meu nível de distração atinge níveis insuperáveis e eu nem consigo me irritar comigo mesma. E olha que poderia. Frequentemente passo da estação de metrô onde tenho que baixar, pensando na vida; isso quando não pego o trem para o lado errado - também acontece; ou quando saio de casa e esqueço a chave dentro e fico torcendo pra alguém abrir a porta quando eu voltar.

Também notei isso hoje quando abri a janela de manhã e vi o sol dando bom dia. Sorriso indomável. Na bicicleta, rosto gelado, duro de frio, mas não inexpressivo. Minha realização era visível em cima daquela magrela, mochila nas costas. Achei que alguém mais tinha percebido, porque um homem, na rua, falou "bon día" (assim, em catalão) e eu respondi, achando o máximo da simpatia - quase impossível para os padrões locais, ainda mais àquelas horas da manhã - e só depois reparei que não era comigo, óbvio. Tentei engolir o sorriso, mas não conseguia.

Minha vida basicamente deu um giro ao contrário. Enquanto ouço minhas amigas dizendo que estão comprando apartamento (em uma semana foram quatro), eu voltei a ser apenas uma estudante, que faz trabalhos em grupo, cozinha para si mesma, acorda cedo pra estudar outro idioma e torce pra conseguir um estágio suficiente para pagar apenas o aluguel. E essa é na verdade o que há de mais rico no meu dia a dia, simplesmente pelo fato de que isso foi tudo que eu desejei nos últimos anos. Não o salário baixo, o adeus à poupança ou o medo de minha grana acabar antes do verão, mas o contexto da situação.

Viver em uma das cidades mais bonitas do mundo - onde não chove por mais de dois dias seguidos -, estudar só aquilo que "me gusta", começar a vida do zero, conhecer pessoas incríveis dia após dia, ter amizades adolescentes. Ser uma pessoa leve. Não há nada na vida como a realização de um sonho. Quando as pessoas me perguntam se estou feliz, não digo a elas que façam o que eu fiz. Digo que façam o que lhes faz acordar de manhã, aquilo que esperam há muito realizar e principalmente aquilo que dá um medinho, uma coceira. Porque esses são os melhores sonhos, que nos tiram da bobeira da rotina e nos fazem enxergar a vida com outros olhos, sentir cheiros antes imperceptíveis, saborear cada pedaço do dia, sem pensar em deixar o melhor para o final. Aproveitando o agora!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Minha primeira vez na neve


A previsão de tempo não era das mais amigáveis. Abaixo de zero, chuvoso, nevando. Se o normal seria ficar triste com essas possibilidades, para mim foi mais que excitante! Afinal de contas, eu nunca havia visto neve na vida e seria uma excelente oportunidade, apesar do medo que eu estava de congelar na rua. Preparada para isso, vesti as minhas 4 camadas de meias além da calça mais larga que tinha - a única que servia em cima de tanta roupa - e coloquei meu super casaco rosa bebê - gentilmente emprestado por minha amiga Ana Luíza prevendo meu sofrimento mediante as baixas temperaturas do inverno europeu e meu guarda-roupa desfalcado. Como complemento, luvas, assim mesmo, no plural; gorro; óculos, de grau mesmo - para proteger os olhos dos floquinhos mais agressivos - e meu incansável "paráguas rojo".


E a neve nem se fez de difícil. Já no caminho, de dentro do trem, pude vê-la. E ela vinha ao meu encontro, chocando-se na janela do vagão e deixando um borrão como lembrança. Meus dedos frenéticos começaram aí mesmo a seção de fotos e descobri, nesse dia, o efeito "preto e branco" causado pela neve. Demais!

Chegando ali, descobrimos uma cidade pequenina todinha murada. Caminhamos por fora, fomos a um ponto bem mais alto, nos arredores, de onde podíamos ver a muralha por dentro, voltamos e percorremos seu interior. Por mais linda que fosse a paisagem, em alguns momentos tivemos que nos recolher em "sítios más calientitos" para aquecer um pouco as mãos, os pés, a cabeça e o que mais estivesse pedindo socorro.

Lá fora, a temperatura era de -2. Nevava e ventava. Um tanto quanto inóspito para turistas querendo guardar dezenas de fotos de "recuerdo".

Fomos bem acolhidas pelo dono de um restaurante que nos fez uma proposta tentadora. Mais que a comida, bem boa por sinal, nos oferecia um ambiente aquecido. Sentada à mesa ainda podia observar, pela janela, os pequenos flocos brancos que caíam na rua, já completamente forrada de gelo.

No caminho para a estação de trem sentia um certo alívio, pelo calor que sentiria nas próximas horas de viagem, mas uma tristeza por deixar para trás tão belo cenário.... Foi minha primeira vez na neve. Não esquecerei a experiência e vou querer repeti-la, sem dúvida. Mas confesso que às vezes não podia controlar um sorriso discreto no canto da boca ao pensar que moro, de verdade, em um país tropical!


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mais que conhecer, viajar é viver


Eu nunca havia estado em Toledo, mas também nunca tinha visto uma "Cavalgada de los Reyes". Não tinha noção de quanto esse momento é especial na celebração das festas de fim e começo de ano aqui na Espanha. Nós também conhecemos essa data no Brasil, mas não a celebramos assim. No máximo, quando criança, eu tinha visto uns homens fantasiados com roupas e máscaras um tanto quanto assustadoras, cantando músicas estranhas e caminhando pelas ruas. É o que chamamos de Folia de Reis. Em Borborema me lembro de ter recebido esses "foliões" em casa uma vez, quando meus pais foram pegos de surpresa, porque em geral eles fechavam a porta e fingiam que não estavam.

Pois aqui é diferente. Eles comemoram o dia 06 de janeiro até mais que o Natal - é só nesse dia que as crianças recebem os "regalos", por exemplo. É quando se come o "roscón" de Reyes, que, traz sorte, dizem. Na véspera, à noite, acontece a tal da cavalgada e eu a presenciei em Toledo, nas cercanías de Madri, onde estava passando o dia.



É um desfile dos Reis magos, precedido de uma banda, música, carros enfeitados e cheios de crianças que distribuem "caramelos" (balas, marshmallows, chupa chups) ao público que assiste, com sua sacolas na mão, prontas para serem "rellenadas" com as guloseimas. Eu mesma saí de lá com o saco cheio!! E muito feliz, me sentindo uma "niña" também!

Claro que a Cavalgada de Toledo é pequena se comparada a das cidades maiores - em Madri é um evento que fecha várias ruas - mas o sentido e a emoção são os mesmos. Crianças esperançosas aguardam a chegada dos resis, que vem acompanhados dos presentes e dos bons votos pra o ano que se inicia.


Dali, fui direto para a estação de trem de volta à capital. De Toledo, além da cavalgada, tenho bonitas imagens de recordação: um rio logo que se chega à cidade, com pontes que levam até o centro histórico, a catedral - das maiores da Espanha, as portas que dão entrada pela muralha, a casa de El Greco, o famoso pintor, e a visão de uma de suas obras, dentro de uma igreja muito simplezinha.

Meus olhos viram uma cidade marrom, cheia de subidas e descidas, de pedras e de torres de igrejas; meus ouvidos se lembram da música que entoavam as crianças esperando pela passagem dos reis e meu paladar não se esquece do sabor dos "mazapanes", expostos em quase todas as vitrines da cidade. Experimentei um de cada, pra poder eleger o melhor. Não consegui, então recomendo que se provem todos, enquanto subir e descer aquelas ruas tão cheias de charme e história.