segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Entre García Marquez e Almodóvar

A Plaza de Toros mais popular da Espanha


Eu tinha um sonho, que já contei. Era morar na Espanha.

Eu escolhi Barcelona mesmo sem conhecer, por ser a mais cultural, pela arquitetura, pela mistura de gente, por ser jovem e, claro, pela praia. E fiz com certeza a escolha certa. Mas eu descobri que Barcelona quase nem é Espanha e que a Espanha está em Sevilha. Pelo menos a do meu imaginário. Em cores de vermelho e negro, refletindo força e paixão, a brutalidade dos espanhóis, a personalidade forte, a tradição das touradas.

Talvez eu não morasse ali. É uma cidade bem menor, faz muito calor no verão e não tem a mescla de gente que "me gusta" en Barcelona, mas foi ali que eu me encantei, onde me senti pela primeira vez na Espanha de verdade, depois de quase 2 meses aqui.

Sevilha "é a Bahia da Espanha". A definição, que ouvi mais de uma vez, não poderia ser melhor. O clima ajuda - fazia 17 graus no Ano Novo, enquanto nevava em vários pontos do país -, as pessoas são muito mais abertas e simpáticas. É divertido caminhar pela rua. Os homens fazem gracejos, as informações vem acompanhadas de sorrisos, vendedores te tratam bem. Pode parecer o mínimo, mas aqui, em muitos lugares, não é.

Ali conheci pela primeira vez uma Plaza de Toros e, apesar da pena que me dá o ritual do espetáculo, fiquei com vontade de ver uma tourada de verdade. Ali também chorei, novamente de emoção, ao ver o espetáculo de Flamenco em um pequeno pátio. Compartilhei com uma pequena platéia, concentrada, os gestos da bailaora que nos fazia sofrer só por mirar sua expressão. Que nos tirava do nosso mundo e nos transportava para o dela. Que nos mostrava as durezas da vida com suas pisadas fortes. Com sua respiração ofegante.

Eu me senti numa novela de García Marquez, mas nada me convencia de que não era um filme de Almodóvar. Eram suas cores, seus movimentos e seus sons. Mas e aquele pátio? De onde poderiam sair as redes onde eu balançaria sem cessar nos eternos dias chuvosos de Macondo?Era ali, tinha certeza. Não? Pois para mim, sim.

Saindo daquele pátio, ainda envolta na música e na dança, caminhei por Santa Cruz, o bairro mais lindo da cidade, dentro de uma névoa. As fortes pisadas no tablado ainda ecoavam dentro de mim. Rumo ao albergue, molhava os pés nas poças e tentava domar o guarda-chuva. Fiquei ensopada, soltei uns palavrões desconexos. Tudo meio involuntário...Dentro de mim, o flamenco encontrava espaço no ninho das coisas pelas quais me apaixono e para as quais ainda quero me dedicar...Olé!


O Tablado de Flamenco da Casa de la Memória



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